A língua é uma cidade para
cuja construção cada ente humano contribuiu com uma pedra. (EMERSON,RalphWaldo). (1985-v2, p.
295).
RESUMO. Procura-se demonstrar
e critica-se a aplicação fenomenicamente exagerada, no Brasil, em todos os
quadrantes de fala e nalguns de escrita, do sestro frasal A Gente, fora de sua acepção coloquial. Em pesquisa direta, foram
eleitos e ouvidos, em uma capital de Estado do NE brasileiro(março-2017), quatro
grupos mensageiros de propagação coletiva – uma emissora de rádio comercial e
uma radiodifusora acadêmica, duas de TV, sendo uma de Universidade, acessados
por via eletrônica; e, em Fortaleza-CE, uma homilia de Missa da Igreja Católica
Romana. Em 131 minutos de audiência dos segmentos investigados, detectaram-se
90 emissões de A Gente, das quais81 com
aplicação incorreta e poucos substitutivos do conjunto vocabular sob exame - Eu, Nós Se e Ninguém - ressaltando-se
o fato de a emissora radiofônica universitária não haver emitido, uma vez só,a dição
ora estudada com o aguardado e necessário apuro. Restaram investigadas as
possíveis razões dessa assiduidade elocutória, superabundante e maléfica, com probabilidade
de assento em efeito sincrônico-diacrônico (antes do experimento efetivado) e/ou
incúria e ingenuidade idiomática. Concluiu-se pelo absoluto descuido em relação
às regras da Língua Portuguesa, nomeadamente na ambiência culta e nos veículos
para difusão maciça, levemente
amortecido pela inocência dos falantes/escreventes, por míngua de escolaridade.
Não há,também, tirante melhor juízo, efeito sincrônico-diacrônico, mas mero
desatendimento às normas específicas.
Palavras-chave: A Gente; Língua Portuguesa; Exagero
Elocutório; Sincronia-Diacronia; Emprego Ingênuo.
Key-words: Us; (We; The Persons); Portuguese
Language; Eloquent Exaggeration; Synchrony-Diacrony; Naive Aplication.
*A fim de
demonstrar a desrazão do costume sobrante e antiestético, até mesmo com vistas a
lhe evidenciar a desnecessidade, não se recorreu, em nenhuma ocasião deste ensaio,
ao termo QUE em qualquer uma de suas taxinomias como classe de palavra.
SUMÁRIO.
1. Notações Introdutórias. 2. Ingenuidade na Proposição de A Gente; 3. Produto das Audiências. 4. Empregos de A Gente; 5. Sincronia-Diacronia; 6.
Negligência e Impropriedade na Exposição Ideativa. 7. À Maneira de
Encerramento. Referências Bibliográficas.
1 NOTAÇÕES INTRODUTÓRIAS
Diversamente de outras investigações, sujeitas por correta orientação
da Metodologia Científicaàs regras desta porção do saber preceituado, este
experimento esgueira-se um pouco dos compreendimentos de tal ordenação
(MARTINHO RODRIGUES, 2007), ao trazer, antes mesmo das discussões alusivas
ao temário debatido, os resultados de uma demanda pessoal,reservada e de moção
própria, portanto, deseixada de exigência universitária, tampouco
efetivada, em atendimento remunerado, a uma contratação de serviço por parte de
alguém.
A decisão
de ao texto aportar, como de bate-pronto, os indicadores resultantes de uma
audição de cinco segmentos, expostos a algumas linhasdescendentes e próximas
daqui, decorre da facilidade ofertadapela sua exposição antecipada de versar
sobre assuntos de grande proveito para a Língua Portuguesa. Estes têm marchana afixação
inadequada e viciosa de palavras desconfiguradas de intenção denotativa e
locuções esdrúxulas, nos momentos propícios dos discursos vocale escrito, neste
passo, peculiarizando o aproveitamento impróprio e corrompido– reexprime-se –
da dição A Gente, sem prejuízo,
todavia, das menções a variadas extravagâncias e idiotismos temporários
insculpidos nos repertórios contemporâneos.
Fere-se a sua temática, trazendo-se o propósito inaugural
configurado emdinamismo,no prisma de
sua conformação expressiva no Português, a qual descansa na conjunção de
energias a animarem o ser humano, sendo característicadaquele ou daquilo forte,
viril, ativo, diligente e vital, passível de empreender mudanças pro rata tempore, no entanto, sem o
ferrete do vício nem a mácula da desobediência aos ditames linguísticos.
Figurativamente, em mediato sentido, a concepção repousa no
comportamento de pessoas dotadas de espírito empreendedor, portadoras de força,
vontade e poder de ação, como, exempli
gratia, acontece com as ações ordinariamente dinâmicas das grandes
potências estatais, receptorasdessas qualidades advindas dos próprios
compatrícios, solidificadores dos seus status
como nações de porte supremo.
Ato continuo, ajusta-se a ideia, esta vinculada à Filosofia, de
reflexão adequada a certos sistemas argumentativos, fazendo afluir o
“movimento, a impermanência ou o devir como a realidade originária do universo,
fonte criadora e princípio explicativo da matéria” (HOUAISS; SALLES VILLAR, 2005:1043),
bem assim de tudo a se achegar à imobilidade.
Desse jeito, valendo-se da significação oferecida por dinamismo, intenta-sedenotar a noção de
o sistema glotológico lusitano, cujos falantes estão em dez países,
experimentar as transformações temporais divisadas pelos linguistas, insertas nas
depreensões de sincronia-diacronia, mais à frente tocadas de
leve, como, verbi gratia, parece
acontecer com o termo estranja,
localizado da segunda linha do sétimo parágrafo da unidade 5 - SINCRONIA-DIACRONIA - ali invitado,
pensadamente, para trazer à colação, pois já não mais ortografado na linguagem
atual, ou, se o é, tal inscrição hoje se afigura pouco comum, por haver sido,
talvez, esse vocábulo deslembrado pelo fenômeno síncrono/diacrônico, na acepção
de estrangeiro.
Aproveita informar, por ter asado pretexto, os países onde o
Português é falado como língua geral, salvante os territórios de Macau (China)
e Goa (Índia), onde se o pratica, entretanto sem o estatuto de código oficial
de exercício universal: Portugal, Guiné-Bissau, Angola, Cabo Verde, Brasil,
Timor Leste, São Tomé e Príncipe e Guiné Equatorial.
Outro giro conducente desta experimentação, subseguido à movimentação
espaçotemporal a presidir as atividades vitais do bípedepensante (FERNANDES,1999), são as diuturnas forças
modificadoras do status quo ante, atinentes
à negligência operada contra a Língua Portuguesa por parte de setores da
sociedade, em especial a de naturalidade brasílica.
Ligada ao caso sob escólio, esta é uma ocorrência adulterina
redutora de seu vigor,como o registrado no pé bilaquiano relativo à tuba de alto clangor, lira singela(MURICI,1946),
respeitável organização semiológica oriunda de matrizes lácicas, com misturas
adventícias arábicas, anglo-saxônicas, germânicas, orientais e de outras e
muitas procedências, em razão de contingências históricas ligadas ao transato
de Portugal como antiga nação dominadora, com atuação em várias partes do
Mundo, desde as supernavegações e aquisições territoriais de enorme
significação, para subsequente rebatimento no Brasil, um de seus últimos
grandeslocus deconquista.
Impõe-se, por apropriado, reportar-se ao influxo linguístico,
impresso no vocabulário ortográfico da Língua Portuguesa (VOLP) noBrasil,
demarcado pelos movimentos imigratórios–incluindo, evidentemente, as recepções
latinas (italianos, espanhóis, franceses
et reliqua) - de árabes, japoneses, chineses, coreanos, alemães, escandinavos,
turcos, sírios, palestinos, africanos em geral, filipinos e de tantas outras procedências,
assentadas, em número mais considerável, no Estado de São Paulo e nas três unidades
federadas da Região Sul (Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul).
Entende-se, ainda, ser preciso fazerreferência(pois subterfúgiosbastantes
para deslustrar a Flor do Lácio)às
tolices e invenções desarrazoadas da Rede Mundial de Computadores, às quais o
intelectual coestaduano Ítalo Gurgel (GURGEL, 2016) chamou, em publicaçãorecente,
O Lero-lero da Internet.
Ali o autor aludiu, em alteado domínio de exame,aos
estrangeirismos – uns aceitos, pois recepcionáveis pelo Português, por não
haver marcação lexicográfica da substância admitida,enquanto outros merecem
reprovação, vedando-se seu exercício, por efeito dos malefícios passíveis de
trazer dano à notável codificação glossológica lusitânica. A propósito, na
atualidade, esta acontece de ser bem desrespeitada no âmago de suas
prescrições, com censurável irresponsabilidade (e esta resulta grave e
vergonhosa), no recinto de universidades e institutos de planeamentoliterário e
científico nacionais, nos meios brasileiros de propagação coletiva, como jornal,
rádio, televisão, magazines e outros suportes de comunicação maciça,
concorrendo, efetivamente, para subtrair a retidão e a plasticidade de um
sistema de expressãolingual tão bem aprestado.
Efetivamente, um dos juízos a pretender conformar os motivos
condutores deste relato de pesquisa pausa na circunstância de as pessoas
aplicarem vozes e expressões equívocas e inadequadas, com inexata acepção
verbal, deslizes na aposição de regras, como imposição de plurais, escorregos
de regência verbo-nominal e concordância adjetiva e substantiva, colocação pronominal
e toda sorte de desacertos, por negligência e falta de empenho para exercitar esmeradamente
as normatizações da Língua e as orientações de elocução, harmonizando, pois,
regra, estiloe razões argumentativas.
Por efetivo, esta sondagem diligencia no senso de fazer
evidente a existência de um sem-número de escorregos por demais toscos
praticados a desfavor do sistema discursivo vocal e redacional da Professora
Doutora Ana Paula Medeiros (Academia Cearense da Língua Portuguesa),
significativo da insuficiente prontidão perceptiva de quem os comete, intenção
esta acolitada pela indicação da desconveniência de exercê-los. Segundo
adiantado há pouco,a inquisição radica na ouvida de circunstantes de cinco
ambientes de trato transmissor oral para audiência coletiva, no tentame de se
confirmar o suposto de aplicação, generalizada e quase totalmente estropiada,
do moto principal deste escrito conformado na conjunção do artigo-substantivoA Gente.
Em continuidade, desenvolver-se-ão notações relativas ao
assinalamento inocente do idioma, eo ipso,
por pessoas desprovidas de aviamentos intelectivos formais, maiormente a
respeito do uso, à revelia da ambiência corretiva, sítio de utilização restrita
da dição objeto de exame.
2INGENUIDADE NA
PROPOSIÇÃO DE A GENTE
Tocado de leve este argumento no preâmbulo da corrente notação,
exibe-se relevante sua abordagem, hajam vistas a imensa conjunção de pessoas
sem a escolaridade à altura de realizar a cisãodo falso em contraposição ao
verdadeiro, pretexto de peso para o sucedimento das bobices e dislates de
oralidade e verbalização em texto, transportados para a configuração gráfica.
Muita vez, a pletora de cabeçadas verbais (da qual é parte A Gente, apontada multiplicadamente
neste artigo, se verifica sob a mais absoluta e perdoável inocência de quem as
perpetra, pois à míngua de informações escolares e à insuficiência da
autodidaxia doméstica. Isto, sem embaraço, dimana da persistência,no País,do elevado
indicador de analfabetismo(isto é, de pessoas desprovidasdo mínimo de prontidão
para ler, escrever e contar), quando confrontado aos Estados de igual perfil de
Nação, ora no perpasse de uma crise moral sem antecedentes (2017), com reverberação,
principalmente, nas searas da Educação e da Saúde.
Aqueles responsáveis por essa conjunção de procedimentos estão
fora das universidades, não atuam nos meios de propagação massiva, tampouco nas
escolas elementares e secundárias, nem nas igrejas de quaisquer confissões,
muito menos na literatura. Por isso passam ao largo da presumida reprimenda
insertada nesta matéria, até porqueos retrocitados procederes têm curso, via de
regra, nas conversas informais, de contorno grupal e familiar, exatamente como
aparece miudamente aproveitado o padrão ideacional contido em A Gente, a recepcionar a conceição de
ingenuidade linguística argumentada no parágrafo imediatamente anterior.
De consonância com os
conceitos emitidos a tal respeito, postados nas considerações de fechamento do
corrente escrito, as noções ínsitas a dinamismo, desleixo e utilização inocente
podem ou não figurar como justificação para a usança inadequada, nos discursos
verbais, tanto orais como escritos, de A Gente, quase eliminando oSee
reduzindo o Eu, o Nóse o Ninguém,
outras reservasnas manifestações expressadas em condutores de informes plurais
– rádio, televisão, revistas, jornais, folhas virtuais – palestras científicas,
respostas a questionários, homilias católicas e de outros credos, discursos
políticos, trechos de falas em novelas e entrevistas etc. Tal desiderato de
influência está reservado ao módulo das Considerações Finais, onde são trazidos
os arrazoamentos a rematarem as alegações de ordem geral exibidos no transcurso
de todo este caderno.
Jungida ao arquétipo do
vocábulo dinamismo, tenciona-se,
também,fomentarum lábil exame da sincronia-diacronia, em seus aspectos
históricos e autorais, sem a presunção de fazer conchegar aditamento algum de inovação
ao assunto, até pela grande possibilidade de a atuação síncrono-diacrônica não
influir para a constante aparição de incorreções tão teimosas quanto
desregradas, conforme assenta na sucedida com A Gente.
Na sucessão, proceder-se-á,
nos moldes metodológicos de uma perquisição simples, bibliográfica (GIL, 2008)
e com audiência direta, sem intuito universitário e de vontade espontânea do
investigador, ao exame dos motivos de uso, repetidamente abusivo,da unidade
ideativaA Gente,exprimindo o agenciador indeterminado, como equivalente
a Eu, Nós, Se,Nós, Ninguémet coetera, em todos os quadrantes de fala e, não só, também de
acordo com o manifesto em uma de suas significações nas obras lexicográficas,
numa contextura verbalsomente de âmbito familial, conforme o exemplo trazido por esta vertente: A Gente não o lia, porque não tínhamos vagar(PRADO E SILVA; LOURENÇO FILHO; MARINS,
1979).
3 PRODUTO DAS AUDIÊNCIAS
Visando a materializar o objetivo deste escrito, assentado em
demonstrar o exercício equívoco e reiterado dos pontos ideacionais sob glosa,já
se encaminham os resultados de uma busca pessoal, recolhida somente emcinco audições
de matéria oral,conforme explicado à frente, com o total de vezes dos termos
emitidos, em locais distintos, quatro numa capital estadual nordestinae apenas
uma em Fortaleza- CE, em uma igreja de confissão Católica, Apostólica e Romana.
Importa fazer remissão ao fato de terem sido inclusos na demanda
os referenciais básicos da Bioética, expressos em autonomia, não-maleficência,
beneficência, justiça e equidade, nos termos da Resolução número 466/2012, do
Conselho Nacional de Saúde – MS-Brasil (BRASIL-MS-CNS, 2012), atualizando a de
número 196/96.
Consolidou-se a audição
de 131 minutos, comA Genteempregadaem
90 oportunidades, sendo três usos no âmbito preconizado pelos regramentos da Língua
Portuguesa – nos dez minutos de jornal radiofônico, em entrevistas com pessoas
do povo do subúrbio, de escolaridade mínima depreendida,a respeito de segurança
nos bairros dacapital sob arguição.
Em acréscimo, seis também restaram certas, apreendidas em dois
grupos de sujeitos, não cabendo indicar os exemplos, porquanto está implícita a
contextura do recesso pessoal e da contingência de fala em colóquio, duas no
programa científico da rádio acadêmica e quatro na homilia da Missa católica,
perfazendo nove, como pode ser divisado no Quadro, localizado posteriormente.
Eis expressas três respostas certas, com exclusividade, para o
programa de radiofusão jornalística (nove foram as emissões corretas):
- “A
Gente fica preso e os marginal solto”. (Assim);
- “A Polícia, envés de proteger A Gente, dá é uma de bandido”. (Assim).
E
- “No bairro do J., é todo tempo os menor
butano a faca no pescoço da gente”. (Assim).
Dita procura envolveu,
como pode ser visto na ilustração a seguir,os prazos, sujeitos e número de
ocorrências da dição A Gente:
a) dez minutos de um jornal
radiofônico – 14 ensejos;
b) 20 minutos de um
telejornal – 13 registos (12 repetições);
c) 30 minutos de um
programa de variedades do ensino, pesquisa e extensão de uma TV universitária –
proferida 22 vezes;
d) 60 minutos de um
programa científico-acadêmico, numa estação de rádio universitária – 19
marcações (18 reiterações); e
e) 11 minutos da homilia de
uma Missa da Igreja Católica, Apostólica e Romana – 22 ocorrências.
Verificaram-se, com apontamentos no Diário
de Campo, as audiências, respectivamente, nos dias a-18, b-19, c-21, d-17 e e-22
de março de 2017.
Os indicativos do experimento estão
consolidados no Quadro sequente.
Audiência
do Emprego de A Gente em Cinco
Segmentos de Fala
Março
de 2017
SEGMENTO
|
TEMPO
|
TOTAL
EMISSÕES
|
APLICAÇÕES
|
OUTRAS
APLICAÇÕES CORRETAS
|
||||
CORRETAS
|
INCORRETAS
|
EU
|
NÓS
|
SE
|
NINGUÉM
|
|||
Jornal
Radiofônico
|
10 min
|
14
|
03
|
11
|
-
|
-
|
-
|
-
|
Telejornal
|
20 min
|
13
|
-
|
13
|
01
|
-
|
02
|
-
|
TV
Universitária
|
30 min
|
22
|
-
|
22
|
02
|
07
|
-
|
-
|
Rádio
Acadêmica
|
60 min
|
19
|
02
|
17
|
-
|
28
|
07
|
-
|
Homilia
(Missa)
|
11 min
|
22
|
04
|
18
|
02
|
08
|
03
|
06
|
T O T A L
|
131 min
|
90
|
09
|
81
|
05
|
43
|
12
|
06
|
Fonte: Elaboração
própria. Dados da Pesquisa.
Conforme
se inferiu dos indicadores extraídos dos 90 registos ocorridos nos 131min das
cinco audiências, 81 utilizações de A
Gentesobejaram ao largo da prescrição das regras, ao determinarem o emprego,
privativamente, no círculo familiar, em apontamento na ilustração, sobrando
apenas nove sucessos de uso certo.
De relevância capital, bem se analisa, é o
ato de se envolverem programações de duas emissoras de tv e duas de rádio -
quatro programas - sendo dois televisivos e dois radiofônicos, dois de perfil
científico (um de rádio e um de televisão), inclusivamente na seara de elevados
estudos, como mestrados e doutorados, enquanto o outro par, de radiofusão e tv
difusora, de teor jornalístico, na contextura dos quais também é requerida correção
de linguagem, no circuitoda manifestação à grande audiência, dentro dos
preceitos técnicos para emissão e recepção de matéria com perfilcomunicacional
de escopo universal.
Impõe-se relatar, por oportuno e
relativamente necessário, a ausência, dos discursos do emitente radiofônico não
universitário, de Eu,Nós,Se e Ninguém para substituir A
Genteno decurso dos dez minutos de sua edição, auscultada pela
minipesquisa, pois a preferência, em cem por cento dos casos, foi porA Gente(14 ocorrências), três havidas como corretas (falas de
entrevistados) e 11 incorretas (discurso do locutor, reproduzindo o redator).
Entrementes, no telejornal, além das 12
reproduções (isto é, 13 ocasiões, todas defeituosas), a recepção foi de apenas
um Eu e dois Ses,sem registro de Ninguém,tampouco de Nós,enquanto no programa televisivo
universitário, transpondo oA Gente
(22, todas com aplicação equívoca), verificaram-se o Eu em duas passagens, oNósem
sete, sem, contudo, sucedermarca de Se, muito
menos de Ninguém.
Na rádio acadêmica, na audiência anotada, não
houve Eu, mas aconteceram os
substitutivosNósem 28 passagenseSeem sete, entre 19A Gente (duas corretas e 17 erradas) e nada do substituto Ninguém.
Com pertinência à prédica religiosa, esta
foi discorrida por um sacerdote católico, de elevada formação intelectual e
indiscutível preparo teológico, dotadode esmerada habilidade retórica - sucessos,
aliás, já não corriqueiros na atualidade, em relação à clerezia católico-romana.
Dirigiu-se a uma audiência qualificada sob
o espectro da instrução formal, todavia sem a observância dos ditames destinados
às transmissões verbais (orais e grafadas) para uma oitiva de fiéis de igual
confissão, porém, desconhecidos entre si, tal qual se cuidasse de uma aula
magna com centenas de assistentes, estadorequisitantedos bonada norma culta, a igual dos projetos informativo/científicos
das viaturas de informação comunitária, feitos o rádio e a televisão.
De tal maneira, todos os ocorrências de A Gente, além de pronunciadasduas vezes
por minuto (em 11min, 22 frequências), resultaram desobedientes às
determinações do discurso no qual há de ser manifestaa Língua Portuguesa,
como,certamente,na ocasião descrita. Foram observados, entretanto, dois
aparecimentos de Eu, oito de Nós, três de Se e seis de Ninguém(os
quais bem poderiam haver substituído A
Gente), no concertamento, contudo, de 11 minutos em exposição clara,
perfeitamente decodificável, vazada em português escorreito, disposta –
repete-se – com requinte oratório pouco comumhoje, em dia, nas práticas
sacerdotais católico-tridentinas.
Esta
míni investigação, sob o ponto de visão metodológico, resulta em demanda direta
de audiência por via de observação pessoal, quantiqualitativa e(repete-se) de
escolha voluntária do ensaísta e sem propósito acadêmico, também arrimada em
consultas livrescas, mormente dicionários e gramáticas, por motivações óbvias.
4 EMPREGOS
DE A GENTE
Quantas
vezesA Gente, em busca da ventura
Procede tal e qual o avozinho infeliz:
Em vão, por toda parte os óculos procura
Tendo-os na ponta do nariz.
(MÁRIO
de Miranda QUINTANA. Alegrete, 30 de julho de 1906. Porto Alegre, 05 de maio de 1994). (DELLA NINA, 1985).
Como divisado na diligência investigativa
direta apontada no segmento propedêutico destes comentos, diga-se,sem tenção
maior, na audiência a cinco procedências procuradas pela pesquisa, em 131
minutos de oitiva, A Gentesobrou
revelada em 90anotações, das quais apenas nove podem, com rigor, ser apostas
nas estremas do aceitável de praxe correta, pois inseridas no pressuposto
anotadolinhas adiante, origem acreditada na literatura atinente ao tema, o Dicionário Brasileiro da Língua Portuguesa.
São Paulo: Melhoramentos, 1979, malgrado perfazer 38 anos de sua editoração,
faixa insuficiente, salvante melhor raciocínio, para ser acertado pelos
tentáculos da taxionomia saussureana - sincronia-diacronia.
Fenômenos de extraordinária, malsã e
ligeira manifestação, as excentricidades elocutórias são teimosas e abrangentes
na sua capacidade de compreender a massa, de tomá-la como parceira, em cada
estrato comunitário, não importando o patamar cultural onde a audiência está
assente.
Eis o motivo pelo qualA Gente, agora sob exame, parece ser a mais influente e prestigiosa
força linguageira em atuação, pelo menos na observação autoral ora explícita,
e, sobretudo, se transpostaatravés dos meios para transferência massivaa uma multidão
disposta e receptiva, em tese, à absorção de seus teores, pois nesses media deposita crença quase inabalável.
Sem
tir-te nem guar-te, tampoucoacanhamento de se confessar, embora providotodo o
cuidado, uma vez por outra, se descobre enredado nessa trama aracnídea
envolvente e possante, da qual, inadvertidamente se utiliza (somente nos
ensejos de fala), enquanto se a rejeita e desaconselha, por estar A Genteavessa, na maioria dos casos,
aos cânones linguísticos, aos quais estão sujeitos os produtores de escritos - acadêmicos,
em específico.
Apanha-se, ab initio, no clássico Dicionário
Escolar Latino-Português, do lexicólogo, docente de Latim e filólogo
carioca Ernesto Faria Junior (Rio de Janeiro, 23.05.1906; 14.03.1962), o
sequente extrato:
Gens, -is, subs. F.1 – Sent. Próprio: 1 Gente (conjunto de pessoas [as quais] pelos varões se ligam a um antepassado
comum, varão e livre) (T. Liv. 38, 58, 2). II = Daí, por extensão: 2) Família, descendência, raça (Sal. B. Jug. 95,
3). 3) Povo, nação (Cíc. Rep.3, 7). III
– Sent. Poético: 4) Descendente, filho (Verg. En. 10, 228). No pl. gentes, - Ium, subs. F.
pl.: 5) As nações estrangeiras (em oposição aos romanos (Tac. Germ. 33).
(1994, p. 239).
Já no Dicionário
Houaiss da Língua Portuguesa (HOUAISS; SALLES VILLAR, p.1443), as
informações resultam mais explícitas, com maiores opções de sentidos, conforme
vêm. São trazidas, porém, tão-só, algumas significações, até incluir aquela de
ordem coloquial, justificativa deA Genteapostalicitamente
sob a visão do ordenamento lexicográfico (a derradeira acepção, sublinhada).
Gentes.f. (s XIII ch. Fich. VPM) 1multidão de pessoas; povo (toda
aquela gente aguarda atendimento há três
horas) 2 os habitantes de uma
região, país etc; povo (a gente da roça) (a gente brasileira) 3
o gênero humano, a humanidade 4 número
indeterminado de pessoas (havia pouca gente
no comício) (tem gente em casa?)5 Bgrupo
de pessoas [com] o mesmo perfil, interesses, profissão etc. (aquela gente era muito alternativa para o seu gosto(A gente do mundo empresarial) 6 a família (a minha gente foi passar fora o fim de semana) [...] [...] 10 MIL força armada [...] a. g. 1 a pessoa [a falar];
eu 2 a pessoa [a falar] em nome de
si própria e de outro (s); nós (a gente resolveu
se mudar para o campo.[...].[...]. (Sublinhou-se).
O
Dicionário (há momentos prefalado),
entre outros entendimentos, também destaca o extremo terminalimposto no
fragmento citado – interrompido com reticências - na acepção 10 do excerto
imediatamente acima, todavia, chamando o leitor a tomar tento para a
indispensabilidade do contexto privativo, com vistas a se empregar A Gente, porquanto, [...] Na linguagem familiar, precedido do artigo a, exprimeo agente indeterminado,
equivalendo a se, nós etc., conforme está, neste
comenos, na sentença reeditada: “A Gente(com
realce) não os lia porque não tínhamos vagar”.
Por consequência, exclusivamente em tal
condição, resta admitida a locução A
Gente, de molde a estasobrardefesaaos falantes e escrevedores desvestidos
desta determinação normativa, segundo são os casos de professores, produtores
de conhecimento mediante obras editadas, jornalistas e agenciadores de
informação ao mundo da coletividade.
Em época nenhuma, foi tão solta, exageradamente
desobedecidae desobrigada, a normatização exigível de um idioma, como a
ocorrente na quadra fluentecom o Português do Brasil, afastando-o da “normal”
de linguagem culta, em decorrência de toda uma conjunção de nódoas procedentes
dos mais disparatados cacoetes, de todas as nações de erros imagináveis, alguns
dos quais aqui se prestaram como exemplo dos ditos destrambelhos. Estes,
seguramente, caso prosperem com a robustez ora ensaiada, subtrairão, em futuro
mais remoto, ou até em futuro bem acostado, a riqueza, a limpidez e o fulgor de
uma língua opulenta, naturalmente esmerada na sua plasticidade e favorecida de
uma impressionante polissemia, oferente de ilimitadas possibilidades de
composição em todos os gêneros.
Com a palavra os mentores e adeptos de sua
admirável estesia – os silogeus de língua, cultura e arte – para não deixarem
tombar paulatinamente, ex-vide tão
inadvertidosenteados, esta gigantesca, velha e operosa sequoia, na qual [...]Camões chorou no exílio amargo o gênio sem ventura
e o amor sem brilho.
5SINCRONIA-DIACRONIA
Com o centenário de publicação, ocorrido em
2016, da obra póstuma Course de
Linguistique Génerale, subscritopelo estudioso suíço Ferdinand de Saussure
(Genebra, 26.11.1857; Morges, 22.12.1913), organizado por pupilos seus
(indicados adiante), também fez centúria o ramalho de saber ordenado, a
Linguística, cuja continuidade científica foi operada por esse intelectual
helvético, hoje com milhares de seguidores em diversas partes do Mundo, no
Ocidente e Oriente.
Em especial, isto sucedeu em virtude da
edição do mencionado compêndio, à luz editorial de ex-alunos, arrimados em
apontamentos de aula, após três anos do passamento de seu principal, e, hoje,
conquanto todo esse lapso transcorrido,sereserva como a publicação mais
importante da área, uma espécie de “Monumento às Ciências Humanas”.
Essa
produção, editada em muitas línguas e sucessivas edições e reimpressões, veio a
público sob a organização de Charles Bally eAlbert Sechehaye, com a colaboração
de Albert Riedlinger, e representa um paradigma desta seara sistematizada do
conhecimento, ainda ensaiando posição no concerto das ciências semióticas, como
seu mais relevante esgalho. Essa procura pela posição definitiva - impõe-se
exprimir - acontece no âmbito da normalidade, haja vista o curto período de
desenvolvimento científico desde Saussure (cem anos), faixa de duração inepta
para o assento e estabelecimento sistematizado e definitivo de um conjunto de
saberes.
A Linguística, decerto, representa o ramo mais preeminente da
Semiologia, a Teoria Geral das Representações, a qual inclui os signos sob a
totalidade de configurações por estes assumidas, imprimindo ênfase,
especificamente, na propriedadede conversão mútua entre os sistemas
significantes.
Tem por objeto: i) a linguagem do ser
humano, no concernente aos modos fonético, sintático, semântico, morfológico,
psicológico e social; ii) as línguas havidas como estruturas; iii) procedência
e evolução das línguas; e iv) as taxionomias em grupos, conforme a estrutura ou
de acordo com as famílias, segundo o critério – tipológico ou genético.
(SAUSSURE et alii, 2006).
Este ramo da ordenação científica experimenta diversas
subdivisões, como, e.g., Aplicada,
Comparada, Chomskyana, Funcional, Gerativo-Transformacional, Geral, Funcional,
Histórica – dentre outras – particularizando-se, no caso deste miúdo
experimento, a classificação da Sincronia-Diacronia, à qual serão dirigidas as
ligeiríssimas referências deste mero empenho investigativo, porquanto as
fragmentações taxinômicas susoditas deixam de ser objeto de exame aqui, por não
refletirem os proveitos esperados da minipesquisa então relatoriada.
Na inteligência repetida de autores a
mancheias, tanto do Brasil quanto da estranja(aplicação
propositada, pois muito pouco vista no ecúmeno de escrita da Língua Portuguesa),
tendo sempre por lastro deduções origináriasdo Linguista genebrino, à
Linguística de feição diacrônica compete descrever uma língua ou um segmento
desta, incluindo as transformações por via das quais transitou, incorporando
tais mudanças ao uso do código estudado no instante de aproveitamento corrente
(IBIDEM).
Isto
tem curso, também, conforme repisado até o momento, com o Idioma Lusitano,
motivo pelo qual, neste passo, a tençãoé sugerir se o exercício exagerado de A
Gentedecorre (certamente, disto não deflui),nos escritos e na oralidade
brasileiros de hoje, do dinamismo
oferecido pela sincronia-diacronia indigitadas por Saussure e
seus seguidores na publicação, editada por primeiroe em impressão crítica
preparada por Louis-Jean Calvet para as Edições Payot (Paris, julho-1916).
Nesse mister, a diacronia é opósita a
sincronia, uma das chamadas DicotomiasSaussureanas,
conforme ocorrem de ser, também, como definido pelo Semiólogo genebrino, outras
bifurcações, mencionadas logo à frente. No seu compêndio postmortem, aqui multicitado, o Autor não emprega a unidade
nocional dicotomia, de étimo heleno,
representativa de “repartido igualmente”. Há, porém, oito compreensões para
substanciar as percepções saussureanas, configurados em Diacronia-Sincronia,
Língua-Fala, Significante-Significado e Paradigma-Sintagma, dos quais somente
são adiante comentados Diacronia-Sincronia e Língua-Fala.
Ratifica-se, a modo de informação complementarao
leitor, confirmatória da lembrança armazenada desta verdade e ora repescada em
nascente credora de fé(LELLO & LELLO, 1993),a notícia de o surgimento da
Ciência Linguística se haver dado no apagar do século XVIII, com a descoberta
do sânscrito (significa perfeito),
antiga língua dos Brâmanes, ainda hoje a verbalização do primitivo Indostão. De
efeito, não foi Ferdinand de Saussure seu principal, consoante restará
suplementado.
Anteriormente a
Ferdinand de Saussure, era empregado o método histórico-comparativo, ao qual
ele deu o nome diacronia. O exame
diacrônico ocupa-se das transformações impostas à língua ao compasso do total
durável, enquanto a sincronia examina os códigos glotológicos em certo período.
Com amparo no par dicotômico diacronia-sincronia, o Neogramático genebrês
delimitou a diferença entre fatos sincrônicos e diacrônicos. No caso, os
primeiros demarcam ciclo de regularidade linguística e, no mesmo passo, o
evento diacrônico perfaz o conjunto sucessivo do fenômeno sincrônico.
Outra lição originária do Linguista suíço
de Genebra dormita nas ideações de langue e parole(a dicotomia
língua-fala), pois, para ele, a língua é de comunidade, oposta a fala, de
caráter individual. Entrementes, a langue
é sistemática, estruturada signicamente, tal não ocorrendo com a parole, como já expresso, de aspecto
particular. A língua, contrariamente, representa um indicador social e a pessoa
se utiliza dela para operar a fala, podendo uma ser estudada separadamente da
outra.
Como passada complementária - epede-se até
escusa pelos parênteses -no entanto, não é de todo ocioso participar ao
contingente ledor o informe de a região do sul asiático antes mencionada, o
Indostão, atualmente, coincidir com os Estados – todos independizados – de
Índia (Capital Nova Delhi), Paquistão (Islamabad), Bangladesh (Daca) e Butão
(Timfu), bem como os arquipélagos-entes estatais soberanos de Sri-Lanka [antigo
Ceilão, a antiquíssima Taprobana) capitais Colombo (executiva) e Kotte (administrativa
e legislativa)] e Maldivas ( capital:Male).
No retorno do fio à meada, e sem a aspiração
descabida de desenvolver um epocal enredo da Ciência do especialista Avram Noam
Chomsky (East Oak Lake, 07.12.1928 – 89 anos), o Pai da Linguística Moderna,
evidenciam-se no seu escorço historial, indicado na fonteimediatamente acima referenciada
e da qual se procedeu à leitura livre e com muitos acréscimos, três conjunturas:
1 foi revelado o nome de Franz Bopp,
docente de Filologia e Sânscrito da Universidade de Berlim [Mogúncia (ou
Mainz), 1791; Berlim, 1867], compositor da primeira gramática comparada das
codificações indo-europeias. Representa o intervalo indicativo de criação dessa
vertente do saber ordenado;
2 reconheceu-se a figura de August
Schleicher, teólogo, filósofo e linguista oriental, doutor em Linguística pela
Universidade de Bonn (Meningen, 19.01.1821; Iena, 06.12.1868- 47 anos). Escreveu
o Compendium (1861-2), na contextura
do qual cuidou de reconstituir, com relativo sucesso, a língua-mãe ariana ou
indo-europeia. Este foi um período de maior exigência, pois impendia explicar
as distinções linguais depois de verificadas as semelhanças; e,
3 com efeito, foi a vez de Ferdinand de
Saussure, alinhado a outros estudiosos, de quem se indicam ligeiros traços
biográficos e, a modo de remate das notações respeitantes à Ciência de José
Alves Fernandes (Aracoiaba-CE, 21.10.1930; Fortaleza, 17.05.2012), indigitam-se
os dividendos, até a atualidade, das decisões
de ensaios empreendidos por este pugilo de notáveis compositores, a propagarem
por todo o Globo a ainda centenária e, por isso, novel Ciência dos Signos.
Segue-se, pois, com breves notícias biográficas
e de domínio público, a relaçãodo grupo de neogramáticos da aleia de Ferdinand de Saussure, à disposição, de
a quem convier mencionar, em inumeráveis sítios da Rede Mundial de Computadores
e em produções não virtuais, em suporte de papel, do recheio das boas
bibliotecas.
Henri
Joseph Abel Bergoigne – Vimy, 31 de agosto de 1938; La Grave, 06 de agosto
de 1888. Orientalista francês. Filólogo e tradutor, professor da Universidade
de Sorbonne, especialista em língua e literatura sânscrita.
Hermann
Osthoff – Unna, 18 de abril de 1847; Heidelberg, 7 de maio de 1909. Linguista
e filólogo tudesco, membro da Escola Neogramática, influenciadora do indo-europeísmo.
Pierre
Antoine Louis Havet – Paris, 06 de janeiro de 1849; Rochecorbon, 26 de
janeiro de 1925. Professor do Colégio de França, latinista e helenista, experto
em poesia grega e latina.
Friedrick
Karl Brugmann – Wiesbaden, 16 de março de 1849; Leipzig, 29 de junho de
1919, linguista e neogramático de renome. Escreveu, com Hermann Osthoff, InvestigaçõesMorfológicas.
Archibald Henry Sayce–Gloucester (Gloucestershire), 25 de setembro de
1845; Bath (Somerset), 4 de dezembro de 1933. Este linguista e neogramático
grão-britano foi estudioso da língua assíria e dos hieróglifos asiáticos.
Filologista comparativo e egiptólogo, foi professor de Assiriologia da
Universidade de Oxford-Inglaterra, de 1891 a 1919. Escreveu Gramática Elementar com Silabário Completo e
Livro de Leitura Progressiva da Língua Assíria, mais, entre outros
trabalhos de vulto, a Introdução à
Ciência da Linguagem.
Como resultado dos seus experimentos, foram
estabelecidos alguns princípios, ainda hoje observados, com acréscimos e
algumas subtrações, em virtude da própria sincro-diacronia das línguas, ao modo
de exprimir vindo na sequência.
1 As leis fonéticas são absolutas para
vogais e consoantes.
2 Os casos nos quais as leis fonéticas
parecem não ter explicação sobram clarificados sempre pela ação da analogia.
3 A analogia renova e enriquece as línguas.
4 O Sânscrito não é o representante mais
puro da língua-mãe indo-europeia. (IBIDEM,
v.2, 73).
6NEGLIGÊNCIA
E IMPROPRIEDADENA EXPOSIÇÃO IDEATIVA
Há dezenas de anos inserto no ofício de
efetuar revistas de textos acadêmicos, peças literárias e escritos outros
dispostos a publicação, confronta-se superabundante rol de deslizes
gramaticais, sentenças desprovidas de relato coerente, enganos de razão,
redundâncias, aplicações inadequadas das classes gramaticais – seguramente todas, do artigo às interjeições e
locuções interjetivas – e uma junção imensa de invencionices, manias e chavões,
a empanarem a fulgência da Língua Portuguesa.
Esse
ror de registros vocabulares disparatados, em sua maior parte, tem curso na
esfera da Academia, fato lamentável e desabonador da escola elementar e média
do Brasil, a qual, em tese, nãoaprestou o escolar como deveria, comportou-se
com frouxidão no respeitante à imprescindibilidade da aprendizagem e de sua aplicação
prática, bem assim (des)favoreceu os estudantes terminais com um diploma
corrompido pela falsidade de sua certificação, e inócuo, a não ser do ponto de
vista legal (ilegal), pela broca de uma ministração acadêmica descometida da
indispensável e obrigatória responsabilidade.
Os (des) favorecidos com tal certificado,
porque não logram aprovação no exame vago do ENEM, nem nos concursos
vestibulares das escolas melhores, terminam matriculados nas miríades de
faculdades (“dificuldades”) e programas a distância, instalados em “cada
esquina”, principalmente, das cidades maiores do País.
Armazenam-se centenas de exemplares de “pérolas”
extraídas (concertadas e consertadas durante a revista) de teses de doutorado,
dissertações de mestrado, trabalhos de docência-livre, relatórios de pesquisa,
memoriais para concurso de professor-titular, livros didáticos e peças
assemelhadas, os quais, uma vez reunidos, formariam um volumoso in folio, tal resulta o seu total,
lance, porém, não desanimador da vontade de se oferecer, como protótipos, uma
meia dúzia de modelos tão desconformes.
Além dos teimosos e indefectíveis de repentea (à) nível de, processo, questão,
enquanto (“eu, enquanto pessoa ...) impacto, impactar, transparente, de ponta,
a partir, ferramenta, diferentes isto, diferentes
isso, diferentes aquilo, extratos sociais - este encontrado não apenas três ou quatro vezes
em textos até de sociólogos - e muitas muletas de cabeça dura e desparafusadas
do discurso verbal, ainda persistem, no Ceará (Estado onde se atua), bem menos,
em virtude da ação dos revisores, alguns dos quais excessivamente exigentes e
até demasiado cáusticos.
Alguns desavisados entendem essa função
desacertada como significativa de status,
pois denotativos de estarem em contato estreito com a lexicografia praticada
pela Academia – e nos grandes centros – em dia com a linguagem exercida em
universidades e institutos de pesquisa.
Como se não fosse suficiente o
estreitamento vocabular, por falta de conhecimento do léxicon português, esses
modismos, frases feitas, chavões e mais e mais asneiras do discurso, maiormente
o do âmbito instituições de ensino superior, são substanciosos em suas
recalcitrâncias e concorrem, em um crescendo, para depauperar a vernaculidade
nacional, pois dições desprovidas de significante e ocas de significado, “sepulcros
caiados” da elegância terminológica.
Em disputa acirrada com A Gente – fora da demarcação normal, na
familiaridade, no colóquio – são acrescidos os “gerundismos”, na oralidade como
no texto verbal escrito – “amanhã, vou estar telefonando para o senhor”; “posso
estar trazendo um cafezinho?”; o senhor está querendo um café, uma água?”; e os
“participioismos”: “ele tem comparecido diariamente”, em vez decomparece ... ; (“eu sempre tenho
observado (“eu de sobra, pois o verbo
conjugado já denota a pessoa), no lugar de observo
... etc. etc.
Para não encompridar demais a seção e a
modo de seu fecho, citam-se as redundâncias, manifestações vocabulares
defeituosamente sobejas, as quais pelejam, palmo a palmo, com as deformações
insertas em um escrito por má pontuação, sinalização diacrítica imperfeita,
desconveniências de conteúdo ortográfico, concordância e regência nominais e
verbais, entre a considerável quantidade de delitos gramaticais e ilícitos estilísticos
perpetrados contra o Português. Este mau vezo representa indicação liminar de
descrédito do bom leitor em relação ao seu autor.
Adstrita ao escrevinhador despercebido de
predicados redacionais ou descuidoso no trato da mensagem, redundância
significa, na fala e na escrita, nomeadamente literárias, a descabida insistência
na apropriação de assertos antecipadamente enunciados ou tacitamente sensíveis
na oração, quer na significação inerente à própria palavra ou mesmo em
complemento enganoso e desnecessário a manifestações idiomáticas cujo sentido
já se completara.
Recolhem-se, pois os casos de sorriso nos lábios, sobrevivente vivo,
belonave de guerra,gatofelino,pássaro alado, lágrimas nos olhos, encarar de frente, cadáver do defunto mortoe elefante de tromba, encontradiços em
vários textos, consignas de falas e mensagens demediadiversificados, pois as unidades sob exemplo já armazenam nos
próprios núcleos a intenção buscada, sem a necessidade de reforço de
significação, dando azo, feiosa e equivocadamente, a danos na estesia textual e
agravos à lógica da escritura. Empassant,
uma das “pérolas” – pássaro alado–
foi recolhida de tradução feita por um estudante de doutorado em Física,
inserida numa seção do livro Leçons de
Mécanique Céleste, de Jules Henri Poincaré.
7 À
MANEIRA DE ENCERRAMENTO
No Brasil, ambiente de acontecimento destas
notas, quem lê jornais, periódicos, escritos de teor investigativo-metodológico
e assiste a qualquer transmissor de informações maciças, oral e auditivo-visual,
bem como a conversas de pessoas e grupos em quaisquer circunstâncias, pode divisara
exorbitância fenomenal, de deixar pasmado aquele mais cuidadoso do trato
verbal,na recorrência à unidade de ideia sob exame – A Gente– ao modo como está registado no módulo 3 desta
investigação.
Distante de se ambicionar,
manu militari, impingir um
ensinamento inflexível e no limite do fundamentalismo,oobjeto desta chamada de
atenção, contrária e modestamente, exprime-se somenteno fito de conduzir o
leitor a atentar para a imperfeição da maioria das aplicações desse expediente
idiomático. Tal pensamento visa, tão-só, a preservar a normatização da Língua
Portuguesa, gravada de tanta estesia e riqueza expressional, procedida por
estudiosos de nomeada em todas as suas ramificações disciplinares, em Portugal
e no Brasil. Estas são nações onde a população utente, oral e ortograficamente,
é maior, enquanto os dois países figuram como lugares de longo decurso analítico
no referente à história, evolução e determinações principiológicas desse primoroso
idioma, cujos usufrutuários dosistema suplantam, em medida censitária estimada
para 2017, o quantitativo de 221 milhões e 532 mil falantes-escreventes –
estando a Nação Lusa com pouco mais de quatro por cento desse total
(10.270.000), detendo, a seu turno,o Estado Brasileiro os outros mais de
noventa e cinco por cento (211.262.000).
De tal maneira, bem se alcançapelas
anotações da audiência aos cinco segmentos pinçados para ouvida, claramente
indicativas de tão sucessivas tachas linguísticas, o aferro empobrecedor ao
móvel deste curto experimento, o qual sobra transgressor, como é notório na
Seção 4 desta monografia (EMPREGOS DE A
GENTE), quando as pessoas em maioria recorrem indevidamente à dita unidade
para cobrir todas as acepções de Gente, expendidaspelasobras
lexicográficas mencionadas nas Referências bibliográficas destes conceitos, os
quais, conforme já antecipado, encerram pouca ou nenhuma presunção.
Os falantes e escreventes assim o fazem,
como se todas as significações de Gentefossem
– e não o são -substitutas de Eu, Nós, Se, Ninguéme demais
vocábulos suplentes, restando, pois, defeso o recurso a A Gente, a não ser em se cuidando de conversação orografada de
aspectocoloquial, consoante resulta, exempli
gratia, das respostas de ouvintes do Jornal Radiofônico constantes da seção
Produto das Audiências, uma das quais (se repete) é: “A Gente fica preso e os
marginal solto”. (Sic).
Frequente e reiteradamente, se ouve um
jornalista de televisão -aqui pelo autor entendido como em um momento não
familiar (seja dito), pois um programa de tal quilate reclama língua de cultura
- ao ler o roteiro de sua narração, assim falar: “A Gentevai agora a São Paulo, para saber a previsão do tempo, com
M.J.C.[...]”.
De tal molde, parece lícito se debitar, em
parte, o mau vezo de A Genteao
descaso ou mesmo intento exercitado, de estudo, para transgredir determinações
gramaticais, distantes das gramatiquices, em prejuízo da pureza e da elegância,
de acordo com o visto na leitura do quadro explicativo das cinco audiências,
inclusas duas transmissoras universitárias, de radioemissão e teledifusão, fato
deveras desalentador.
Também, de acordo com percepção relatada
antecipadamente, entende-se desprovida de juízo verossímil a possibilidade de A Gente, quase sempre, tomar os lugares
de Eu, Nós, Se, Ninguémetc., atendo-se o fato às
compreensões da dicotomia síncrono-diacrônica, denotativa do dinamismo das línguas, referido com
rapidez no começo destas opiniões.
Por consequente, resulta descabido, consoante
sobeja patente nesse trecho do artigo (5 – SINCRONIA-DIACRONIA), e ainda por
sensível insuficiência de motivos, contabilizaro descomedimento de servir-se
equivocamente de A Genteà conta da
taxionomia há mais de cem anos operada por Ferdinand de Saussure e seus
adeptos-continuadores.
A modo de fechamento sintético desses
comentários desafetados, sem a jactância da palavra derradeira e
inquestionável, bem ao reboque dos padrões fundamentalistas, declara-se
receptivo, portanto, a outras discussões, afigurando-seracional, entretanto, se
oferecer resposta à indagação do título, vazada nos argumentos manifestos no
curso de todo este escrito: na aplicação hiperbólica e absolutamente
generalizada de A Gente na
fala-escrita atual, não há efeito síncrono-diacrônico, existindo, todavia,
emprego ingênuo e desleixo idiomático,
em virtude da inobservância, muita vez proposital, das uniformizações e
regramentos lexicais.
Pelo latíssimo e geometricamente evolutivo espectro
de uso desconforme e universal da expressão comentada - pessoas, meios de
propagação coletiva, discurso universitário etc. - não há de se esconder o
temor de se haver travado uma batalha perdida.
Desventuradamente
...!
REFERÊNCIAS
AZEVEDO, Rafael Sânzio
de. O Soneto Moderno. In: Poesia de todo o Tempo. Fortaleza: Edições
Clã, 1970.
BARRETO, J. Anchieta E.;
MESQUITA. A Escrita Acadêmica –
Acertos e Desacertos. Fortaleza: Programa Editorial da Casa de José de Alencar
(Universidade Federal do Ceará), 1998. 200 p.
BRASIL – Ministério da
Saúde – CNS. Res. 466/2012. Diário
Oficial da União. Brasília, 13 dejunho de 2013.
CUNHA, Antônio Geraldo
da. Dicionário Etimológico Nova Fronteira
da Língua Portuguesa. 2. ed. 14. Impressão. Rio de Janeiro: Nova Fronteira,
2001.
DELLA NINA, A. Dicionário da Sabedoria. São Paulo:
Fittipaldi, 1985.
FARIA JUNIOR, Ernesto. Dicionário Escolar Latino-Português. 6.
ed. 6. tir. Rio de Janeiro: MEC-FAE, 1994.
FERNANDES, Francisco;
LUFT, Celso Pedro. Dicionário de
Sinônimos e Antônimos da Língua Portuguesa. 38 ed. São Paulo: Globo, 1999.
FERNANDES, Francisco. Dicionário de Regimes de Substantivos e
Adjetivos.23. ed. SãoPaulo: Globo, 1995.
FERNANDES, Francisco. Dicionário de Verbos e Regimes. 40 ed.
São Paulo: Globo, 1995.
GIL, Antônio Carlos. Métodos e Técnicas de Pesquisa Social.
6. ed. São Paulo: Atlas, 2008.
GURGEL, Ítalo. O Lero-lero da Internet. Fortaleza:
Academia Cearense da Língua Portuguesa (on
line), 2016.
HOUAISS, Antônio; SALLES
VILLAR. Mauro. Dicionário Houaiss da
Língua Portuguesa. Paulo: Objetiva,
2005.
INSTITUTO ANTÔNIO
HOUAISS. Dicionário Houaiss de Sinônimos
e Antônimos. Rio de Janeiro: Objetiva, 2003.
LELLO, José; LELLO, Edgard
(Dir.).Dicionário Enciclopédico
Luso-Brasileiro em 2 volumes. Porto: Lello & Irmão, 1983.
MARTINHO RODRIGUES, Rui.
PesquisaAcadêmica: Como Facilitar o
Processo de Preparação de suas Etapas. São Paulo: Atlas, 2007.
MESQUITA, Vianney. Nuntia Morata – Ensaios e
Recensões. Fortaleza: Expressão Gráfica,
2015. 368 p.
MESQUITA, Vianney. Esboços e Arquétipos – Língua – Ciência
– Literatura. Fortaleza: Expressão Gráfica, 2016.
MESQUITA, Vianney. Arquiteto a Posteriori. Fortaleza:
Imprensa Universitária da Universidade Federal do Ceará, 2013.
MURICI, José Cândido de
Andrade. A Nova Literatura Brasileira.
Porto Alegre, Livraria Globo, 1936.
PRADO E SILVA; LOURENÇO
FILHO, Manuel Bergson; MARINS, Francisco (Plano Estrut. e Coordenação). Dicionário Brasileiro da Língua Portuguesa.
São Paulo: Melhoramentos, 1979.
SAUSSURE, Ferdinand de; BALLY, Charles: SECHEHAYE, Albert.; RIEDLINGER,
Albert. Cours de Linguistique Génerale.
Paris: Payot, 1916.
Nenhum comentário:
Postar um comentário