Vianney Mesquita
A leitura é a viagem de quem não
pode pegar um trem. (FRANCIS DE CROISSET, dramaturgo belga.*Bruxelas,
28.01.1877; +Nanterre, 08.11.1937).
Tem curso um ditado de procedência
italiana - “Eis outra vez Crispim” (“Ecce iterum Crispinus”) – relativo a um
criado de comédia, do tipo bufão, velhaco e sem escrúpulos, o qual, nas mais
variadas situações, e repetidamente, aparece para importunar os circunstantes.
Contrario sensu, evidentemente, o título desta
matéria denota, ao reverso de fazê-lo molesto qual a personagem do anexim
latino, a imensa satisfação de deitar comentários sobre a figura singular do
escritor José Batista de Lima (Taquari-Mangabeira-Lavras da Mangabeira-CE,
17.05.1949), na oportunidade em que trouxe ao público sua obra – ora por mim relida
– A Literatura Cearense e a Cultura das
Antologias, ao lume em 1999, sob a rubrica das Edições Dezessete e Trinta,
da Universidade de Fortaleza – UNIFOR.
Na
ocasião, na qualidade de docente daquela Academia, eu expressava o fato de que
mostrar este literato à UNIFOR era igual a apresentar Jesus Cristo a Deus Pai,
tão conhecido e apreciado e querido é ele, ainda hoje, ali e noutros ambientes
de que faz piso.
Constantemente
há, no entanto, o que dizer de uma pessoa cuja produção, tanto na seara das
letras como no campo da cidadania, cresce todos os dias, mourejando nos três
turnos em proveito da cultura material e em benefício do espírito.
Batista
de Lima é escritor multifário, polígrafo, porquanto produz textos cobrindo
variegados gêneros, com a fecundidade e a eloquência de quem guarda prontidão
intelectual, permanentemente atualizada, para retratar, maiormente na crítica,
os escritos lidos com sofreguidão e aplestia.
Professor
de ofício, da língua e da literatura que cultiva e avigora com determinação e
espírito pedagógico, José Batista de Lima é, ao derredor de Sânzio de Azevedo,
Carlos D’Alge, Linhares Filho, Dimas Macedo, Giselda Medeiros, Neide Azevedo
Lopes – mencionando apenas alguns dos nossos grandes escritores – um dos
maiores historiógrafos literários do Ceará, consoante atestam os diversos
ensaios até hoje produzidos, dos quais podem ser pinçados Vazios Repletos e Moreira
Campos – a escritura da ordem e da desordem, sem contabilizar o ror de
poemas, contos, romance, versos-de-pé-quebrado, trovas, cantares e outras
estruturas, representativos de uma multímoda produção, malgrado, ainda, sua
relativa juventude para o ofício de escrever Literatura.
Docente
dos bons, rigoroso no que ensina, verdadeiro no que proclama e exemplo no modo
como se comporta, possui elocução leve e riqueza cromática, quando exprime, em
qualquer gênero, a literatura de ficção de sua terra, cujo vocabulário empregado
hauriu do contato com a natureza que lhe sorriu, ainda quando fedelho, no São
José do Taquari – Lavras da Mangabeira, Município a nos brindar com tantos
homens e mulheres de letras.
É,
entretanto, no terreno do ensaio, estudo e lítero-historiografia a se demonstrar
ainda mais, mercê do seu ofício de mestre de Literatura, tendo como exemplos os
trabalhos produzidos acerca de outrem, que é, como ele hoje, escritor
sobejo, precisando ser dissecado até a
exaustão nos programas de graduação e pós-láurea dos quais é professor.
Impende-me,
por conseguinte, em nome dos amigos e pares na Academia, me congratular com
Batista de Lima pela produção de mais esta obra – A Literatura Cearense e a Cultura das Antologias – a qual reúne
três excepcionais ensaios, dois dos quais – o segundo e o terceiro – penetram
criticamente os meandros psicológicos de livros de Adolfo Caminha e Moreira
Campos, dois dos maiores expoentes da literatura patrial e que enriquecem, com
seu estilo, tipos e comportamentos, o acervo literário de Língua Portuguesa.
O
primeiro escrito, por sua vez, é verdadeira aula magna acerca das seletas ou
crestomatias circulantes no Ceará até hoje, e que, pelo seu alcance, mereceram
uma carta deste portento da nossa erudição literária, que é Sânzio de Azevedo,
cujo texto constitui o segundo capítulo do livro.
Parabéns,
pois, ao Professor José Batista de Lima por enricar nosso recheio artístico com
nova joia de sua colheita, trazendo o selo das Edições Dezessete e Trinta,
mantida por dez docentes da Universidade de Fortaleza. Meu abraço, a admiração
e o respeito literário.
De
parabéns está, ainda, a UNIFOR, ao preservar em seus quadros pessoa tão
grandiloquente de palavras, atos e escritos, como é o Prof. José Batista de
Lima, patrimônio seu e do Ceará e do Brasil e dos países lusofônicos.
*A base
deste texto foi preparada em 30 de março de 1999, lido quando do lançamento do
citado livro, na UNIFOR, publicado em nosso livro Fermento na Massa do Texto (Apreciações). Sobral: Edições UVA, 2001, pp. 57-8. A versão
ora editada é atual, nomeadamente os quatro primeiros parágrafos.
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